domingo, dezembro 18

BOAS FESTAS

 MENINO QUE ENCHE CORAÇÕES



No seguimento da preparação das telas, lembrei-me de vos oferecer um Menino que enche o meu coração, não por ter sido feito por mim já há alguns anos, mas porque O amo de todo o meu coração e sei que me ajudou a transmitir o que vive em mim.

Apresento-vos o Menino Jesus, desejando a todos um Santo Natal e um Feliz Ano Novo e que Ele perdure no coração de todos os homens, nos nossos corações e nos corações das nossas famílias.
  

  
Vamos então dar alguns esclarecimentos sobre esta obra: 

Na execução, aplicámos uma técnica mista sobre tela. Usámos tintas de acrílico, tapa-fendas e, por último, as tintas de óleo. Esta técnica vive essencialmente da preparação da tela. A textura da tela é obtida por aplicação de um preparado para telas espesso e não por aplicação de tinta pastosa. Também podemos verificar alguns sulcos nas folhas de azevinho, feitos com um estilete sobre o preparado. A tinta, na generalidade, tem uma consistência leve e nalguns casos é aplicada em aguada. Texturar uma superfície é um truque que nos retira da monotonia de uma tela lisa e mais facilmente chegamos aos melhores resultados pretendidos. Umas linhas atrás, chamo a atenção para a aplicação da tinta de óleo em último lugar, pois a tinta acrílica nunca se aplica sobre uma base gorda, a não ser que eu queira obter um craclé. É uma regra básica em pintura: a camada mais gorda é sempre a última a ser aplicada.

Para melhor esclarecimento, apresento mais três obras em que utilizei a mesma técnica.

BOAS FESTAS!   

                                                                                                                                     



                                                                                                                 
  

sábado, novembro 26

CONTINUAÇÃO DO TRATAMENTO DA TELA


OS RELEVOS E AS TEXTURAS PARA TÉCNICA MISTA

Sobre tela ou madeira

Quando pensar em usar relevos ou texturas, deve pensar em preparar a tela ou a madeira nesse sentido.
A seguir ao tratamento com a cola, para selar o suporte, use uma argamassa de compra para modelar os relevos ou mesmo desenhar grafismos. Um tapa-fendas usado na construção civil serve e é bastante duradouro, pois eu já usei. Tenho trabalhos com mais de 10 anos que não apresentam uma fenda ou qualquer tipo de deterioração. Mas também pode fabricar o seu preparado de gesso e grude.
O grude é uma cola, portanto uma substância aglutinante, que permite a aderência das substâncias às superfícies. É uma cola forte e pouco purificada, ideal para suportes que não exijam grande pureza.
Temos então de fazer a cola.

Cola de grude

Grude – 20 gramas
Água – ½ litro
Glicerina – algumas gotas  

Coloca-se o grude na água e vai a lume brando mexendo sempre sem deixar ferver. Quando está completamente dissolvida, acrescentam-se algumas gotas de glicerina e a cola está pronta.

Argamassa de gesso

Depois de fazer a cola, junte o gesso aos poucos até saturar o líquido; depois, mexa o gesso e, como a proporção do gesso tem de ser de acordo com a dureza que pretende obter, pode acrescentar mais algum gesso até encontrar a dureza que necessita. Se pretende uma textura mais áspera e mais robusta, junte alguma areia.
Depois de cobrir a tela com o preparado, pode, com a ajuda dum estilete, desenhar alguns grafismos, fazer relevos ou criar texturas diferentes alterando somente a rugosidade. Na criatividade somos sempre livres, a marca tem de ser nossa.
Este preparado aplica-se ainda morno e no mesmo dia em que se fabrica.
Se optar pelo tapa-fendas, depois de o usar, deve deixá-lo bem tapado e vedar a caixa com fita gomada para o poder usar por mais algumas vezes.
Se quer mesmo modelar figuras em relevo, até pode usar panos, mas nesse caso tem de fazer o preparado mais fluído para mergulhar os panos. Ao tapa-fendas também pode acrescentar água para que o preparado fique mais fraco e possa modelar com panos. Por baixo dos panos, para fixar o relevo pode usar papel de jornal amachucado e embebido em cola.

Aqui ficam alguns trabalhos meus onde utilizei estas técnicas.

Técnica mista sobre tela (com tapa-fendas, pano e tinta acrílica)

Técnica mista sobre tela e alguns grafismos (com tapa-fendas, acrílico, folha de ouro e óleo)
Técnica mista-baixo - relevo sobre tela (com tapa-fendas, ligaduras de gesso, panos e tinta acrílica)

terça-feira, novembro 15

PREPARADOS PARA TELA NA PINTURA A ÓLEO

PREPARADOS E SUPORTES DE PINTURA


O que é um preparado?

É uma mistura de produtos à base de gesso que isola a tela dos pigmentos e outros compostos como óleo e aguarrás, componentes das tintas que vamos aplicar. Os óleos são muito agressivos para os tecidos e esta é uma maneira de preservar as obras durante mais tempo.  O gesso é um material inerte, isto é, não reage quando misturado com outros materiais. Ele endurece na presença da água, mas só reage uma vez, pois não volta a dissolver-se, isolando, portanto, a tela das tintas e cobrindo bem o seu grão. O gesso tem de ficar bem diluído para não deixar marcas de pincel nem grânulos. 

De uma maneira geral, as telas de compra já vêm com um preparado, embora fraco. Antes de começar a pintar, deve limpar a tela de grânulos de gesso, pois na verdade é frequente elas virem com impurezas. No caso de preferir fazer a preparação total do suporte e resolver comprar o tecido a metro, deve comprar linho, juta, lona crua ou lona de seda.
E o processo  para construir o suporte é o seguinte:
1 – Construir um bastidor do tamanho da obra que pretende executar.
2 – As ripas têm de ser suficientemente fortes para o trabalho não empenar. De preferência 2x4 cm.
3 – No caso de o trabalho ser bastante grande, tem de ser reforçado a meio com mais ripas, as necessárias para que haja estabilidade e equilíbrio.
4 – O tecido tem de ficar bem esticado no bastidor, o que se faz usando um agrafador de carpinteiro com agrafos próprios para madeira.
5 – Se o tecido for cru deve isolar-se com um preparado de cola. Já existem no mercado colas brancas para este efeito.
6 – Diluem-se duas colheres de cola num copo de água, de preferência morna. Aplica-se na tela e deixa-se secar bem.
7 – No dia seguinte, aplica-se o preparado à base de gesso, o que torna o suporte mais liso e apto a receber as tintas.
Já existem no mercado preparados para tela, mas vou dar-vos duas receitas caseiras antigas. 

Primeiro preparado

Óxido de zinco – 3 dl 
Cola de peles – 3 dl
Gesso apagado – 3 dl
Verniz dâmar – 1,5 dl
Água – 1,5 dl
Glicerina – algumas gotas

Segundo preparado
Água – 4 dl
Óxido de zinco – 2 dl
Gesso apagado – 2 dl
Cola de caseína – 2 dl
Glicerina – algumas gotas

Com estas receitas, ficamos com mais ou menos um litro de preparado. Agora depende do tamanho da tela e pode sempre fazer mais.
É preciso ser bem diluído e aplicado por três ou quatro camadas com uma trincha.
Deve-se aplicar a primeira demão na horizontal, esticar bem, deixar secar e depois aplicar a camada seguinte na vertical e assim sucessivamente.


E temos a nossa tela pronta. Há quem junte um pouco de acrílico colorido na última camada. A cor escolhida será de acordo com o tema e a cor dominante, pois facilita o percurso.

terça-feira, novembro 8

A REGRA DOS TERÇOS

UM POUCO MAIS À FRENTE EM COMPOSIÇÃO

Antoni Tàpies - técnica mista sobre madeira

Uma obra de arte dispensa folhetos a acompanhá-la; ela por si comunica com o observador. Não é por ter muitos folhetos a ilustrá-la que melhora ou piora o seu valor. Ela vale porque é única e porque chegou a esse patamar sem ajudas. 
O seu valor estético tem de vir primeiro pela percepção sensorial. Eu observo, adoro e depois tento compreender que regras o artista seguiu para chegar àquela conclusão. Alguns pintores surrealistas escrevem mensagens nos quadros não para deixar claro o que fizeram, mas muitas vezes para equilibrar a composição. 
 Antoni Tàpies pintor catalão do séc . XX, vanguardista, termina de uma maneira geral a composição com a sua assinatura. Ela faz parte do todo, não é uma coisa que está ali a mais nem a usa sempre no mesmo lugar; ele coloca-a onde é necessária. Nesta obra, ele assina T XX ( Tàpies sec. XX) naquele ponto por a composição seguir uma espiral. Muitos artistas traçam mesmo linhas geométricas para organizarem  as suas obras.


Se vamos iniciar um trabalho, temos de pensar em três coisas importantes:
- o tamanho - se o que vou fazer é em grande ou pequeno formato;
- a forma - se pretendemos usar um quadrado, um rectângulo, ou um círculo; 
- ou ainda se queremos a tela na horizontal ou na vertical.

A regra dos três terços com os
quatro ponto de interesse
De seguida, temos de definir os pontos-chave da nossa composição. Ao desenhar ou até aplicar tintas na tela pelo processo já descrito noutro post atrás, temos de estar seguros do que queremos. 

Hoje vamos debruçar-nos exclusivamente sobre a distribuição dos elementos na pintura de cavalete.

Há uma regra muito conhecida pelos pintores que é a regra dos terços.

Autor João Vieira - óleo sobre tela
  optou por aproveitar os centros de interesse
 Este processo consiste em olhar para a tela e virtualmente dividi-la em 9 partes iguais, traçando duas linhas horizontais e duas linhas verticais à mesma distância umas das outras. Por este processo encontramos os quatro pontos chave para o equilíbrio.  
Mesmo depois de encontrados, não se podem usar tão linearmente porque eles não podem ter o mesmo valor estético, senão os elementos ficam de difícil leitura. 
Se valorizo o ponto superior direito ou, por outra, se coloco a primeira figura na parte superior direita, a segunda figura pode ficar ao mesmo nível se é isso que quero comunicar; mas deve ficar mais apagada ou mais pequena. Os outros dois também são pontos de interesse que devo usar para enriquecer a composição. 
Torna-se mais fácil colocar os elementos afastados do centro e colocá-los junto dos pontos de interesse. Todos devem ficar com diferentes valores estéticos e pictóricos, para dar alguma dinâmica ao assunto.  
Miró -  óleo sobre tela
Os olhos da fig. central estão na área
dos pontos de interesse
Se optar por usar o centro, que fica envolvido pelos pontos de interesse, o trabalho só resulta se ficar muito perfeito (ver tela de João Vieira). 

Se é uma paisagem, a decisão para escolher a linha do horizonte deve ser minha. Se quero mostrar o primeiro plano, eu coloco a linha do horizonte acima dos pontos de interesse. Se quero valorizar a profundidade, coloco a linha do horizonte abaixo dos pontos de interesse. 
Isto é válido na pintura ou na fotografia. Sei simplesmente que não a devo colocar ao centro. Portanto, com a linha do horizonte não devo dividir o quadro a meio.



Linha do horizonte acima dos pontos de interesse, valorizando o primeiro plano.


quinta-feira, novembro 3

AZULEJARIA PORTUGUESA

MURAIS EXECUTADOS EM AZULEJOS


Dada a importância do azulejo em Portugal, não podia deixar de lhe dar alguma atenção, mesmo que fale deles resumidamente.

Há outros povos como nós que ao longo dos séculos utilizaram esta técnica na arquitectura como Espanha, Itália, Turquia, Irão e Marrocos. 

Azulejos enxaquetados do Convento de Jesus em Setúbal
Em contacto mais próximo com alguns deles, como é o caso da cultura árabe e da indiana, nós absorvemos essas influências que ficaram patentes nos azulejos da arquitectura portuguesa. Daí surgem os azulejos de corda seca e de aresta, que os artistas mudéjares executavam no sul de Espanha (Sevilha, Córdova…). Fomos depois encomendando azulejos à Flandres e mais tarde contratámos artistas, os pintores ceramistas flamengos que se estabeleceram em Lisboa. 

Isto foi um largo passo para a produção portuguesa a partir da segunda metade do séc. XVI. Por ser um material relativamente barato, até em épocas mais pobres não abandonámos a decoração azulejar e fomos para os enxaquetados (linhas em xadrez), que marcaram uma época na arquitectura portuguesa, nomeadamente durante o domínio filipino. Mesmo com estes, parecendo que a obra se tornava barata, mais tarde verificou-se que a aplicação se tornava bastante cara, pois era moroso o acerto de linhas e de azulejos de diferentes tamanhos e formas, pois uns eram rectangulares e outros quadrados.
Painel de azulejos da Igreja da Arrentela, em que a
cena está emoldurada com anjos e florões e uma
 pilastra de cada lado.
A seguir, apareceram os azulejos padrão, de fácil colocação, mas mais morosos na aplicação das tintas.

Os revestimentos das Igrejas, principalmente os que decoram as sacristias e as naves da igreja reservadas aos fiéis, são livros abertos, que contam em painéis definidos a história bíblica, nomeadamente o Novo Testamento. O conjunto dos painéis formam o Mural, mas com determinadas características diferentes dos murais dos edifícios: os painéis são colocados mais à altura dos olhos dos fiéis e aplicados a partir do chão e por norma as cenas terminam em recorte. Cada cena é separada por pilastras e emoldurada com anjos e florões. Temos aqui, bem perto da Amora, a Igreja matriz da Arrentela sobre a qual tive o prazer de fazer um estudo e um pequeno vídeo. Prometo em qualquer ocasião propícia publicar. Agora aconselho a visitarem os belos silhares aplicados neste lugar de culto.

Estação de S. Bento, Porto (1916), com azulejos de Jorge Colaço




Mesmo no séc. XX, sobressaem as estações do caminho de ferro portugueses com os seus “painéis regionalistas”, com obras onde se destaca Jorge Colaço, pintor ceramista, que executou os murais das estações de Vila Franca de Xira, Marvão, Castelo de Vide, Lousã, Évora e a Estação de S. Bento, no Porto. A Carlos Mourinho pertence a autoria do Mural da Estação da Azambuja, a J. Oliveira, o mural da estação mais conhecida - a do Pinhão no Douro e Francisco Pereira e Licínio Pinto Pintores ceramistas, a autoria do Painel de azulejos da estação de Aveiro.
Vale a pena entrar nessas estações antigas e ver este legado, que retrata as tradições e costumes do povo português.
Variações da "figura de convite"(séc. XVIII)
que Eduardo Nery utilizou na decoração da
estação do Metro do Campo Grande (1983)


Os Portugueses ainda foram mais além e conseguiram introduzir a azulejaria na arte mais genuína dando-lhe o estatuto de arte privilegiada nos edifícios públicos e espaços urbanos. Hoje somos reconhecidos a nível internacional por, na arquitectura, termos  o azulejo como elemento identificativo. Os grandes pintores Portugueses, todos ou quase todos experimentaram esta técnica tão tipicamente portuguesa e tão especial. 



sábado, outubro 29

OS MURAIS

AS PINTURAS MURAIS 

São pinturas que se executam sobre uma parede, seja no exterior ou no interior de qualquer edifício. 
Já falámos da pintura a fresco, que é uma pintura mural das mais antigas usadas na arquitectura. Lembramos aqui a cidade de Pompeia em Itália, onde ainda hoje podemos admirar lindas pinturas murais nos interiores dos palácios ou casas senhoriais. 
Há uma grande variedade de técnicas usadas nas pinturas murais, desde os mosaicos Bizantinos aos mosaicos mais modernos tipo “covina”, os painéis cerâmicos do ceramista Querubim Lapa e os painéis de azulejos do pintor Manuel Cargaleiro e ainda uma grande variedade de técnicas que temos espalhadas pelo Metro de Lisboa sobretudo executadas em azulejo. 
Painel cerâmico da autoria de Querubim Lapa
Encontra-se na sala de jantar da Pastelaria Mexicana em Lisboa
A pintura mural é por excelência uma pintura de ambiente e, para que fique integrada harmoniosamente no conjunto, é necessário que o artista proceda de acordo com a escala da parede (proporção e grandeza). Se for numa habitação ou edifício público, temos de ter em conta a dimensão da sala, os materiais arquitectónicos, estilo, cor, textura, forma de todos os objectos que se destinam à decoração interior, móveis necessários, cortinados, etc. Também a pintura deve estar de acordo com a função do local onde vai ajudar a criar o ambiente propício para essa dita função. Um bom exemplo é o grande mural de azulejos de João Abel Manta na Av. Gulbenkian, que faz a ligação da mata de Monsanto com a cidade de Lisboa, passando gradativamente dos verdes aos azuis e até aos vermelhos da vida citadina. 

A composição deve ligar-se harmoniosamente, como uma continuação do ambiente. Hoje são permitidas muitas coisas em arte, porque o homem é legitimamente criativo. Nós não mudámos só os nossos comportamentos com as comunicações digitais; os nossos hábitos e as nossas experiências também ajudaram a uma nova compreensão da arte.
Não podemos esquecer grandes artistas de rua apelidados de Grafiteiros, que executam murais com técnicas variadas de grande qualidade e que hoje são respeitados como tal por esse mundo fora. 

Foram distinguidos pelo "Sport Street Art" quatro artistas Portugueses em 2014 como os melhores do Mundo na execução de arte de rua e por norma executam murais. 

São eles: Bordalo ll, Odeith, Whils e Eime.

Bordalo ll distinguiu-se com ”o Mocho”, um baixo relevo em que usou materiais reciclados e que se encontra numa rua da Covilhã; Odeith com “O rapaz dos pássaros”, obra executada a partir de uma foto com 80 anos do fotógrafo mais antigo de Setúbal; bem, não se pode dizer que esta obra é um mural, mas sim uma mistura de mural e escultura. Mas não quis deixar de o nomear. Whils distingue-se com “ O perfil de mulher” que está na Polónia e Eime, com o seu mural em Itália. 
Agora, há poucos dias foi inaugurado o novo Mural de Lisboa de André Saraiva, executado em azulejos, técnica portuguesa e feita na fábrica” Viúva Lamego”, das poucas que fazem estes trabalhos e ainda restam em Portugal. Esta obra de arte demorou 2 anos a ficar concluída e tem uma área de 950 m2 . Este artista também veio da arte urbana dos murais de rua e fez um trabalho digno de ser admirado.


Dois pormenores do recente mural de André Saraiva no Campo de Santa Clara, Lisboa






segunda-feira, outubro 24

AVANÇAR SEM REDE - PARTE 2

E se voltar a avançar sem rede? Aceita o desafio?


Vamos preparar o material
A raposa e as uvas - acrílico e lápis de cor s/ papel


O que precisa para avançar


1 – Uma folha de papel A4
2 – Tintas acrílicas ou guaches
3 – Uma mica A4 
4 – 2 ou 3 copos de plástico
5 – 2 ou 3 pincéis pequenos, (se o suporte é uma folha pequena os pincéis têm de estar relacionados).
6 – Lápis de cor, se forem de aguarela melhor.
7 – Forre a mesa com jornais velhos, para não ter surpresas. Arranje um pano velho e um frasco com água para poder limpar os pincéis mais facilmente.

Concentração absoluta

1 – Faça 2 ou 3 cores primárias no máximo, dentro dos copos, junte pouca água para que a tinta tenha algum corpo. Se colocar o amarelo junto do azul, o provável é que lhe apareça um verde e assim pode acontecer com outras cores. Observe esse resultado e aproveite-o.
2 – Coloque a mica na sua frente. Concentre-se e, ao distribuir a tinta sobre ela, não esqueça algumas regras de composição que já conhece. Tente que as manchas fiquem dentro da folha com algum espaço à volta e tenham áreas e formas diferentes.
3 – Pegue na folha A4 e coloque sobre a mesa. Vire a mica já com a tinta e coloque sobre o papel A4, passe a mão sobre a mica e decalque tentando deformar as manchas. Retire a mica, se necessitar use os pincéis para prolongar ou alisar alguma mancha, sobretudo no caso de não agradar a textura. Deixe secar um pouco.
4 – Olhe para o resultado, pense no que vê e se lhe lembra algo que conheça? Pegue nos lápis e tente completar as figuras que as manchas lhe sugerem. Se observar bem, o que está no papel é algo que queria transmitir.
5 -  Não esqueça que o equilíbrio da cor também é importante na composição. Por exemplo, equilibre o quadrante superior esquerdo com as cores do canto inferior direito. O equilíbrio em diagonal torna-se mais harmonioso. A composição fica com mais movimento.

As obras que apresento neste post foram executadas pelo processo descrito atrás.

     
ESPERO NOTÍCIAS.
A festa da amizade - acrílico e lápis sobre papel

segunda-feira, outubro 17

VAMOS VOLTAR À PINTURA


A composição

Algumas regras simples sobre composição

Vou tentar explicar de uma maneira simples o que de certo modo é complicado, mas penso que tudo se torna fácil com a prática e não vale a pena complicar indo ao pormenor de situações confusas.
Quando falamos de composição em pintura, falamos dos elementos que pretendemos pintar e da sua distribuição no suporte, seja um prato, uma caixa, uma tela, uma parede, etc.
A força dos elementos depende do lugar que lhes reservamos no suporte.

Temos de ter em conta algumas regras básicas:

1 – O que pretendo comunicar deve ficar dentro da tela, com algum espaço vazio para que a composição crie força.

2 – Não devo criar muitos pontos de focagem, isto é, não devo dar a mesma importância a vários elementos ao mesmo nível, para que a pintura não fique confusa.

3 -  As formas devem ser variadas, para não criar monotonia e devem estar equilibradas em cor e espaço.

4 – Se alterar a textura num determinado espaço, tenho de equilibrar no oposto.

5 – A distribuição da luz também tem muita importância, sobretudo nos vários planos.

6 – Uma obra de arte deve apresentar pelo menos três planos na profundidade: O 1º plano, o 2º plano e o 3º plano.

7 – O 1º plano é o que fica mais perto do observador, o 2º a seguir e assim sucessivamente. O 1º terá as cores mais fortes; à medida que os planos se afastam, as cores ficam mais esbatidas. O tamanho dos objectos também se altera com o afastamento do plano.

8 – As cores também são mais leves ou mais pesadas consoante sejam frias ou quentes e é conveniente equilibrá-las. Um espaço pequeno de uma cor quente equilibra-se com um espaço maior de uma cor fria. Dentro das cores quentes, o amarelo é a mais pesada porque é a mais forte.

9 – Podemos tornar as cores mais quentes ou mais frias, conforme a cor que lhe adicionamos, fria ou quente.
Penso que transmiti o suficiente para desenvolver algum trabalho ou olhar para os trabalhos dos outros com algum sentido crítico. Mas não vale a pena pensar muito no assunto, devemos entregar-nos ao momento criativo sem grandes preocupações. O resto também vem depois. 
"A prova", da autoria de Paula Rego, em acrílico sobre papel colado em tela
Nesta obra da autoria de Paula Rego, podemos observar com clareza os planos principais.
Está em 1º plano a menina da prova, com as cores mais claras e com maior visibilidade, destacando-se a sua figura no quadrante superior direito, para o qual as pessoas olham instintivamente. Os pintores conhecem-no e os publicitários também.

Depois temos o plano intermédio com a menina sentada a ver a prova, a costureira e a outra figura mais pequena.

E, finalmente, vemos o plano de fundo, bastante escuro, quase imperceptível. E é tudo isto que dá profundidade a esta obra.

sexta-feira, outubro 14

TÉCNICA DO FRESCO


 TÉCNICA CLÁSSICA DO FRESCO OU AFRESCO

 Preparação da Parede

Para iniciar este trabalho, a parede tem de estar bem seca e protegida de salitre.
Esta técnica é composta por 4 operações:
1 – Preparação da parede na sua base essencial.
2 - Preparação da parede para o próprio dia de trabalho.
3 – Operação de decalque.
4 – A pintura propriamente dita.

PREPARAÇÃO DA PAREDE NA SUA BASE ESSENCIAL

O reboco (não vos deve confundir, porque vamos usar materiais utilizados pelos pedreiros e qualquer um o pode fazer desde que lhe demos a receita).
Para esta operação, precisamos do seguinte material:
1 - Cal apagada, gorda e pura, sem óxidos. (Com pelo menos um ano de espera para não queimar as tintas).
2 – Areia do rio lavada e seca (sem mistura de argila, pois pode fazer estalar o reboco).

Atenção! A parede deve ser rebaixada, de modo que o fresco fique dentro de uma caixa, picada e molhada para que o reboco adira melhor à parede.
A preparação consta de três camadas:

1º reboco – 3 partes de areia de rio e 1 parte de cal apagada, tudo nas condições referidas atrás. Deve ser aplicada uns 2 ou 3 minutos depois de ser amassada de modo que tenha já alguma elasticidade.
Cada nova camada deve ser aplicada depois de se molhar a anterior. A película superficial deve ser destruída com uma escova para que melhore a aderência do reboco seguinte.
2º reboco – 2 partes de areia fina (da ribeira) ou pó de mármore e 1 parte de cal apagada.
3º reboco - 1 parte de areia fina e 1 parte de cal apagada. Este reboco deve ser mais mole, levar mais água de cal que os outros que são mais secos e deve ser aplicado de manhã no dia em que se vai pintar. Por essa razão, o trabalho deve ser dividido em parcelas e só colocar a argamassa da parte que conseguir pintar. Pois esta pintura é executada sobre reboco fresco.
Fresco descoberto na Igreja antiga de Atouguia da Baleia

DECALQUE DO DESENHO

1 – Prepare a maqueta em tamanho natural, em papel de cenário e pinte com as cores próximas do que pretende fazer no Mural. A ajuda de um fio de prumo e um compasso também é proveitosa para que o trabalho fique proporcionalmente perfeito.
2 – Divida o desenho em rectângulos ou quadrados e, à medida que o trabalho avança, vá copiando os rectângulos.
3 – Depois de o desenho estar no papel vegetal, faça furos a acompanhar o desenho com ajuda de um estilete. Encoste o papel à base do Mural, depois de a argamassa estar bem lisa, passe sobre os furos com a boneca de carvão acompanhando o desenho que se pretende pintar. Usa-se carvão vegetal porque é um material inerte e não altera a cor.


                                  A PINTURA PROPRIAMENTE DITA

As cores

As mais usadas são as terras. As de origem orgânica não são indicadas porque não resistem à cal. O branco de cal é a mais bela de todas e deve ser de cal apagada pelo menos dois meses antes da pintura e exposta ao sol para se obter um carbonato de cálcio neutro.
Os óxidos também são muito resistentes.
Os pincéis devem ser macios para não ferir a argamassa.
Dividimos o desenho em rectângulos ou quadrados e é esse espaço que nos vai orientar na quantidade de argamassa que vamos usar diariamente.

O último reboco é aplicado diariamente para que as terras sejam sempre aplicadas com a base molhada.


Outro fresco da Biblioteca Nacional, da autoria de Lino António

segunda-feira, outubro 10

AVANÇANDO NA TÉCNICA

O que é um fresco?

É uma pintura executada sobre uma parede ainda fresca e os pigmentos são aplicados com água. Esta técnica confunde-se muitas vezes com a têmpera, que é bastante diferente. Na têmpera, as tintas contêm aglutinantes e a sua aplicação é feita sobre um suporte seco, enquanto que no fresco é realizada sobre argamassa fresca. Isto porque esta pintura caracteriza-se por fixar os pigmentos através de uma reação química, e assim aderem ao suporte, que neste caso é a parede. 
Fresco etrusco (séc.VI a.C.)
Se você aplicar uma terra misturada com água sobre uma parede seca, o pigmento não adere. Precisa de uma cola ou qualquer coisa que a substitua. Falta a parede húmida e a argamassa à base de cal. Isto para que ao aplicar a cor misturada com água se dê uma troca química e fique sobre a superfície da pintura uma película insolúvel. O hidróxido de cálcio ca(Ho)2, em contacto com o dióxido de carbono co2 do ar, vai transformar-se em carbonato de cálcio ca co3, substância insolúvel e muito resistente.
 E é isto que a torna quase eterna ao longo dos anos. Se estiver longe de poluição, a sua durabilidade é enorme. Esta técnica pode ser usada ao ar livre, pois os materiais são resistentes à chuva, mas não terá tanta durabilidade porque está sujeita a outros factores como fumos, etc.  
     De certo modo, não se torna simples realizar este trabalho. Mas é interessante saber que os frescos são as pinturas mais antigas que se conhecem e essas civilizações tão antigas já tinham conhecimentos de química a este nível, com certeza fruto da experiência simplesmente empírica. É através destas pinturas, que existem, por ex., em Pompeia talvez desde o séc. 1, que podemos saber alguma coisa sobre a vida quotidiana destas civilizações. É por este meio que a história de Arte nos ajuda a compreender melhor o Mundo em que vivemos.
Os clássicos, como Miguel Ângelo, Rafael, etc. usaram os frescos e a têmpera, mas, mesmo depois da descoberta do óleo, o fresco continuou a usar-se. Mesmo hoje, podemos ver dois frescos com técnica antiga, datados dos anos 60, à entrada da Biblioteca Nacional em Lisboa, da Autoria do Pintor Lino António.
 A durabilidade do Mural depende da preparação da parede.

No próximo post, falarei da técnica de trabalhar o fresco, desde a preparação da parede à aplicação das tintas.  


Fresco de Lino António na entrada da Biblioteca Nacional de Lisboa

Fresco com 400 anos descoberto agora no tecto da Igreja de Santiago de Cacém

sexta-feira, outubro 7

AVANÇAR SEM REDE


Será cedo para avançar? Quer fazer a experiência?


Vamos pensar como o grande Dali: se imitares os génios corres o risco de te tornares um deles. Vamos criar o nosso próprio caminho. O que sair desta experiência será vosso, terá a vossa marca. Não podemos esquecer que nos vamos expor e quem se expõe está sujeito a críticas. Mas aqui só mostra se quiser.
No primeiro trabalho aconselho que seja a preto e branco, canetas pretas, papel branco.

Material necessário

- Canetas pretas e de três espessuras
- Papel A4 e de gramagem  alta
 As canetas  são usadas para ajudar à distinção dos planos de profundidade. Como são da mesma cor, a ordem é arbitrária, embora eu aconselhe a caneta de ponta mais grossa para fazer o traço principal.  
Trabalho executado pelo processo descrito

Prepare o material. Parta para o exercício com a certeza que vai vencer.

Concentre-se... e vai ver que o seu subconsciente o vai ajudar... Ele ajuda sempre!

Pegue na caneta e faça um traço firme, com curvas e rectas, sem levantar a caneta do papel. Quando achar que deve parar, pare. Observe... e pense: o que lhe lembra este traço? 
Pegue nas canetas finas, primeiro numa, depois outra e vá completando até achar que completou a sua ideia. 

Espero comentários.

Mais tarde darei notícias para continuarmos o nosso trabalho.

terça-feira, outubro 4

OS VÁRIOS MODOS DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA




A EXPRESSÃO ARTÍSTICA


Quando falo de um fresco, de um quadro a óleo, de um painel de azulejos, estou a falar de obras de arte, mas com técnicas bem diferentes e  isso altera completamente a expressão artística. 
Há artistas que mantém o seu cunho mesmo quando mudam de técnica. Isto acontece se a sua marca é dominada pelo traço, mas se trabalha mais com mancha é difícil, pois o comportamento dos materiais é muito diferente: uma mancha de acrílico é diferente de uma mancha de óleo... Mas o artista deve levar o seu domínio ao máximo dos máximos.
Max Ernst (Excursão em família, Óleo s/tela)
Há técnicas que são semelhantes e difíceis de detectar em foto, como o caso da têmpera de ovo, muito usada pelos clássicos, em comparação com o óleo. Como o modo de aplicação é semelhante, só muda o veículo, sendo o aspecto também acetinado. Dito de outro modo, o líquido onde se dissolvem os pigmentos é semelhante na sua base gorda, mas um é uma espécie de maionese e o outro é um óleo. Ambos são gordos.
A forma e o modo de aplicar as tintas também os encaminham para as diferentes escolas, como o surrealismo, o impressionismo, o cubismo, o pontilhismo ou fauvismo.
Paula Rego ( acrílico sobre papel e colado sobre tela)