quinta-feira, novembro 3

AZULEJARIA PORTUGUESA

MURAIS EXECUTADOS EM AZULEJOS


Dada a importância do azulejo em Portugal, não podia deixar de lhe dar alguma atenção, mesmo que fale deles resumidamente.

Há outros povos como nós que ao longo dos séculos utilizaram esta técnica na arquitectura como Espanha, Itália, Turquia, Irão e Marrocos. 

Azulejos enxaquetados do Convento de Jesus em Setúbal
Em contacto mais próximo com alguns deles, como é o caso da cultura árabe e da indiana, nós absorvemos essas influências que ficaram patentes nos azulejos da arquitectura portuguesa. Daí surgem os azulejos de corda seca e de aresta, que os artistas mudéjares executavam no sul de Espanha (Sevilha, Córdova…). Fomos depois encomendando azulejos à Flandres e mais tarde contratámos artistas, os pintores ceramistas flamengos que se estabeleceram em Lisboa. 

Isto foi um largo passo para a produção portuguesa a partir da segunda metade do séc. XVI. Por ser um material relativamente barato, até em épocas mais pobres não abandonámos a decoração azulejar e fomos para os enxaquetados (linhas em xadrez), que marcaram uma época na arquitectura portuguesa, nomeadamente durante o domínio filipino. Mesmo com estes, parecendo que a obra se tornava barata, mais tarde verificou-se que a aplicação se tornava bastante cara, pois era moroso o acerto de linhas e de azulejos de diferentes tamanhos e formas, pois uns eram rectangulares e outros quadrados.
Painel de azulejos da Igreja da Arrentela, em que a
cena está emoldurada com anjos e florões e uma
 pilastra de cada lado.
A seguir, apareceram os azulejos padrão, de fácil colocação, mas mais morosos na aplicação das tintas.

Os revestimentos das Igrejas, principalmente os que decoram as sacristias e as naves da igreja reservadas aos fiéis, são livros abertos, que contam em painéis definidos a história bíblica, nomeadamente o Novo Testamento. O conjunto dos painéis formam o Mural, mas com determinadas características diferentes dos murais dos edifícios: os painéis são colocados mais à altura dos olhos dos fiéis e aplicados a partir do chão e por norma as cenas terminam em recorte. Cada cena é separada por pilastras e emoldurada com anjos e florões. Temos aqui, bem perto da Amora, a Igreja matriz da Arrentela sobre a qual tive o prazer de fazer um estudo e um pequeno vídeo. Prometo em qualquer ocasião propícia publicar. Agora aconselho a visitarem os belos silhares aplicados neste lugar de culto.

Estação de S. Bento, Porto (1916), com azulejos de Jorge Colaço




Mesmo no séc. XX, sobressaem as estações do caminho de ferro portugueses com os seus “painéis regionalistas”, com obras onde se destaca Jorge Colaço, pintor ceramista, que executou os murais das estações de Vila Franca de Xira, Marvão, Castelo de Vide, Lousã, Évora e a Estação de S. Bento, no Porto. A Carlos Mourinho pertence a autoria do Mural da Estação da Azambuja, a J. Oliveira, o mural da estação mais conhecida - a do Pinhão no Douro e Francisco Pereira e Licínio Pinto Pintores ceramistas, a autoria do Painel de azulejos da estação de Aveiro.
Vale a pena entrar nessas estações antigas e ver este legado, que retrata as tradições e costumes do povo português.
Variações da "figura de convite"(séc. XVIII)
que Eduardo Nery utilizou na decoração da
estação do Metro do Campo Grande (1983)


Os Portugueses ainda foram mais além e conseguiram introduzir a azulejaria na arte mais genuína dando-lhe o estatuto de arte privilegiada nos edifícios públicos e espaços urbanos. Hoje somos reconhecidos a nível internacional por, na arquitectura, termos  o azulejo como elemento identificativo. Os grandes pintores Portugueses, todos ou quase todos experimentaram esta técnica tão tipicamente portuguesa e tão especial. 



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