sábado, outubro 29

OS MURAIS

AS PINTURAS MURAIS 

São pinturas que se executam sobre uma parede, seja no exterior ou no interior de qualquer edifício. 
Já falámos da pintura a fresco, que é uma pintura mural das mais antigas usadas na arquitectura. Lembramos aqui a cidade de Pompeia em Itália, onde ainda hoje podemos admirar lindas pinturas murais nos interiores dos palácios ou casas senhoriais. 
Há uma grande variedade de técnicas usadas nas pinturas murais, desde os mosaicos Bizantinos aos mosaicos mais modernos tipo “covina”, os painéis cerâmicos do ceramista Querubim Lapa e os painéis de azulejos do pintor Manuel Cargaleiro e ainda uma grande variedade de técnicas que temos espalhadas pelo Metro de Lisboa sobretudo executadas em azulejo. 
Painel cerâmico da autoria de Querubim Lapa
Encontra-se na sala de jantar da Pastelaria Mexicana em Lisboa
A pintura mural é por excelência uma pintura de ambiente e, para que fique integrada harmoniosamente no conjunto, é necessário que o artista proceda de acordo com a escala da parede (proporção e grandeza). Se for numa habitação ou edifício público, temos de ter em conta a dimensão da sala, os materiais arquitectónicos, estilo, cor, textura, forma de todos os objectos que se destinam à decoração interior, móveis necessários, cortinados, etc. Também a pintura deve estar de acordo com a função do local onde vai ajudar a criar o ambiente propício para essa dita função. Um bom exemplo é o grande mural de azulejos de João Abel Manta na Av. Gulbenkian, que faz a ligação da mata de Monsanto com a cidade de Lisboa, passando gradativamente dos verdes aos azuis e até aos vermelhos da vida citadina. 

A composição deve ligar-se harmoniosamente, como uma continuação do ambiente. Hoje são permitidas muitas coisas em arte, porque o homem é legitimamente criativo. Nós não mudámos só os nossos comportamentos com as comunicações digitais; os nossos hábitos e as nossas experiências também ajudaram a uma nova compreensão da arte.
Não podemos esquecer grandes artistas de rua apelidados de Grafiteiros, que executam murais com técnicas variadas de grande qualidade e que hoje são respeitados como tal por esse mundo fora. 

Foram distinguidos pelo "Sport Street Art" quatro artistas Portugueses em 2014 como os melhores do Mundo na execução de arte de rua e por norma executam murais. 

São eles: Bordalo ll, Odeith, Whils e Eime.

Bordalo ll distinguiu-se com ”o Mocho”, um baixo relevo em que usou materiais reciclados e que se encontra numa rua da Covilhã; Odeith com “O rapaz dos pássaros”, obra executada a partir de uma foto com 80 anos do fotógrafo mais antigo de Setúbal; bem, não se pode dizer que esta obra é um mural, mas sim uma mistura de mural e escultura. Mas não quis deixar de o nomear. Whils distingue-se com “ O perfil de mulher” que está na Polónia e Eime, com o seu mural em Itália. 
Agora, há poucos dias foi inaugurado o novo Mural de Lisboa de André Saraiva, executado em azulejos, técnica portuguesa e feita na fábrica” Viúva Lamego”, das poucas que fazem estes trabalhos e ainda restam em Portugal. Esta obra de arte demorou 2 anos a ficar concluída e tem uma área de 950 m2 . Este artista também veio da arte urbana dos murais de rua e fez um trabalho digno de ser admirado.


Dois pormenores do recente mural de André Saraiva no Campo de Santa Clara, Lisboa






segunda-feira, outubro 24

AVANÇAR SEM REDE - PARTE 2

E se voltar a avançar sem rede? Aceita o desafio?


Vamos preparar o material
A raposa e as uvas - acrílico e lápis de cor s/ papel


O que precisa para avançar


1 – Uma folha de papel A4
2 – Tintas acrílicas ou guaches
3 – Uma mica A4 
4 – 2 ou 3 copos de plástico
5 – 2 ou 3 pincéis pequenos, (se o suporte é uma folha pequena os pincéis têm de estar relacionados).
6 – Lápis de cor, se forem de aguarela melhor.
7 – Forre a mesa com jornais velhos, para não ter surpresas. Arranje um pano velho e um frasco com água para poder limpar os pincéis mais facilmente.

Concentração absoluta

1 – Faça 2 ou 3 cores primárias no máximo, dentro dos copos, junte pouca água para que a tinta tenha algum corpo. Se colocar o amarelo junto do azul, o provável é que lhe apareça um verde e assim pode acontecer com outras cores. Observe esse resultado e aproveite-o.
2 – Coloque a mica na sua frente. Concentre-se e, ao distribuir a tinta sobre ela, não esqueça algumas regras de composição que já conhece. Tente que as manchas fiquem dentro da folha com algum espaço à volta e tenham áreas e formas diferentes.
3 – Pegue na folha A4 e coloque sobre a mesa. Vire a mica já com a tinta e coloque sobre o papel A4, passe a mão sobre a mica e decalque tentando deformar as manchas. Retire a mica, se necessitar use os pincéis para prolongar ou alisar alguma mancha, sobretudo no caso de não agradar a textura. Deixe secar um pouco.
4 – Olhe para o resultado, pense no que vê e se lhe lembra algo que conheça? Pegue nos lápis e tente completar as figuras que as manchas lhe sugerem. Se observar bem, o que está no papel é algo que queria transmitir.
5 -  Não esqueça que o equilíbrio da cor também é importante na composição. Por exemplo, equilibre o quadrante superior esquerdo com as cores do canto inferior direito. O equilíbrio em diagonal torna-se mais harmonioso. A composição fica com mais movimento.

As obras que apresento neste post foram executadas pelo processo descrito atrás.

     
ESPERO NOTÍCIAS.
A festa da amizade - acrílico e lápis sobre papel

segunda-feira, outubro 17

VAMOS VOLTAR À PINTURA


A composição

Algumas regras simples sobre composição

Vou tentar explicar de uma maneira simples o que de certo modo é complicado, mas penso que tudo se torna fácil com a prática e não vale a pena complicar indo ao pormenor de situações confusas.
Quando falamos de composição em pintura, falamos dos elementos que pretendemos pintar e da sua distribuição no suporte, seja um prato, uma caixa, uma tela, uma parede, etc.
A força dos elementos depende do lugar que lhes reservamos no suporte.

Temos de ter em conta algumas regras básicas:

1 – O que pretendo comunicar deve ficar dentro da tela, com algum espaço vazio para que a composição crie força.

2 – Não devo criar muitos pontos de focagem, isto é, não devo dar a mesma importância a vários elementos ao mesmo nível, para que a pintura não fique confusa.

3 -  As formas devem ser variadas, para não criar monotonia e devem estar equilibradas em cor e espaço.

4 – Se alterar a textura num determinado espaço, tenho de equilibrar no oposto.

5 – A distribuição da luz também tem muita importância, sobretudo nos vários planos.

6 – Uma obra de arte deve apresentar pelo menos três planos na profundidade: O 1º plano, o 2º plano e o 3º plano.

7 – O 1º plano é o que fica mais perto do observador, o 2º a seguir e assim sucessivamente. O 1º terá as cores mais fortes; à medida que os planos se afastam, as cores ficam mais esbatidas. O tamanho dos objectos também se altera com o afastamento do plano.

8 – As cores também são mais leves ou mais pesadas consoante sejam frias ou quentes e é conveniente equilibrá-las. Um espaço pequeno de uma cor quente equilibra-se com um espaço maior de uma cor fria. Dentro das cores quentes, o amarelo é a mais pesada porque é a mais forte.

9 – Podemos tornar as cores mais quentes ou mais frias, conforme a cor que lhe adicionamos, fria ou quente.
Penso que transmiti o suficiente para desenvolver algum trabalho ou olhar para os trabalhos dos outros com algum sentido crítico. Mas não vale a pena pensar muito no assunto, devemos entregar-nos ao momento criativo sem grandes preocupações. O resto também vem depois. 
"A prova", da autoria de Paula Rego, em acrílico sobre papel colado em tela
Nesta obra da autoria de Paula Rego, podemos observar com clareza os planos principais.
Está em 1º plano a menina da prova, com as cores mais claras e com maior visibilidade, destacando-se a sua figura no quadrante superior direito, para o qual as pessoas olham instintivamente. Os pintores conhecem-no e os publicitários também.

Depois temos o plano intermédio com a menina sentada a ver a prova, a costureira e a outra figura mais pequena.

E, finalmente, vemos o plano de fundo, bastante escuro, quase imperceptível. E é tudo isto que dá profundidade a esta obra.

sexta-feira, outubro 14

TÉCNICA DO FRESCO


 TÉCNICA CLÁSSICA DO FRESCO OU AFRESCO

 Preparação da Parede

Para iniciar este trabalho, a parede tem de estar bem seca e protegida de salitre.
Esta técnica é composta por 4 operações:
1 – Preparação da parede na sua base essencial.
2 - Preparação da parede para o próprio dia de trabalho.
3 – Operação de decalque.
4 – A pintura propriamente dita.

PREPARAÇÃO DA PAREDE NA SUA BASE ESSENCIAL

O reboco (não vos deve confundir, porque vamos usar materiais utilizados pelos pedreiros e qualquer um o pode fazer desde que lhe demos a receita).
Para esta operação, precisamos do seguinte material:
1 - Cal apagada, gorda e pura, sem óxidos. (Com pelo menos um ano de espera para não queimar as tintas).
2 – Areia do rio lavada e seca (sem mistura de argila, pois pode fazer estalar o reboco).

Atenção! A parede deve ser rebaixada, de modo que o fresco fique dentro de uma caixa, picada e molhada para que o reboco adira melhor à parede.
A preparação consta de três camadas:

1º reboco – 3 partes de areia de rio e 1 parte de cal apagada, tudo nas condições referidas atrás. Deve ser aplicada uns 2 ou 3 minutos depois de ser amassada de modo que tenha já alguma elasticidade.
Cada nova camada deve ser aplicada depois de se molhar a anterior. A película superficial deve ser destruída com uma escova para que melhore a aderência do reboco seguinte.
2º reboco – 2 partes de areia fina (da ribeira) ou pó de mármore e 1 parte de cal apagada.
3º reboco - 1 parte de areia fina e 1 parte de cal apagada. Este reboco deve ser mais mole, levar mais água de cal que os outros que são mais secos e deve ser aplicado de manhã no dia em que se vai pintar. Por essa razão, o trabalho deve ser dividido em parcelas e só colocar a argamassa da parte que conseguir pintar. Pois esta pintura é executada sobre reboco fresco.
Fresco descoberto na Igreja antiga de Atouguia da Baleia

DECALQUE DO DESENHO

1 – Prepare a maqueta em tamanho natural, em papel de cenário e pinte com as cores próximas do que pretende fazer no Mural. A ajuda de um fio de prumo e um compasso também é proveitosa para que o trabalho fique proporcionalmente perfeito.
2 – Divida o desenho em rectângulos ou quadrados e, à medida que o trabalho avança, vá copiando os rectângulos.
3 – Depois de o desenho estar no papel vegetal, faça furos a acompanhar o desenho com ajuda de um estilete. Encoste o papel à base do Mural, depois de a argamassa estar bem lisa, passe sobre os furos com a boneca de carvão acompanhando o desenho que se pretende pintar. Usa-se carvão vegetal porque é um material inerte e não altera a cor.


                                  A PINTURA PROPRIAMENTE DITA

As cores

As mais usadas são as terras. As de origem orgânica não são indicadas porque não resistem à cal. O branco de cal é a mais bela de todas e deve ser de cal apagada pelo menos dois meses antes da pintura e exposta ao sol para se obter um carbonato de cálcio neutro.
Os óxidos também são muito resistentes.
Os pincéis devem ser macios para não ferir a argamassa.
Dividimos o desenho em rectângulos ou quadrados e é esse espaço que nos vai orientar na quantidade de argamassa que vamos usar diariamente.

O último reboco é aplicado diariamente para que as terras sejam sempre aplicadas com a base molhada.


Outro fresco da Biblioteca Nacional, da autoria de Lino António

segunda-feira, outubro 10

AVANÇANDO NA TÉCNICA

O que é um fresco?

É uma pintura executada sobre uma parede ainda fresca e os pigmentos são aplicados com água. Esta técnica confunde-se muitas vezes com a têmpera, que é bastante diferente. Na têmpera, as tintas contêm aglutinantes e a sua aplicação é feita sobre um suporte seco, enquanto que no fresco é realizada sobre argamassa fresca. Isto porque esta pintura caracteriza-se por fixar os pigmentos através de uma reação química, e assim aderem ao suporte, que neste caso é a parede. 
Fresco etrusco (séc.VI a.C.)
Se você aplicar uma terra misturada com água sobre uma parede seca, o pigmento não adere. Precisa de uma cola ou qualquer coisa que a substitua. Falta a parede húmida e a argamassa à base de cal. Isto para que ao aplicar a cor misturada com água se dê uma troca química e fique sobre a superfície da pintura uma película insolúvel. O hidróxido de cálcio ca(Ho)2, em contacto com o dióxido de carbono co2 do ar, vai transformar-se em carbonato de cálcio ca co3, substância insolúvel e muito resistente.
 E é isto que a torna quase eterna ao longo dos anos. Se estiver longe de poluição, a sua durabilidade é enorme. Esta técnica pode ser usada ao ar livre, pois os materiais são resistentes à chuva, mas não terá tanta durabilidade porque está sujeita a outros factores como fumos, etc.  
     De certo modo, não se torna simples realizar este trabalho. Mas é interessante saber que os frescos são as pinturas mais antigas que se conhecem e essas civilizações tão antigas já tinham conhecimentos de química a este nível, com certeza fruto da experiência simplesmente empírica. É através destas pinturas, que existem, por ex., em Pompeia talvez desde o séc. 1, que podemos saber alguma coisa sobre a vida quotidiana destas civilizações. É por este meio que a história de Arte nos ajuda a compreender melhor o Mundo em que vivemos.
Os clássicos, como Miguel Ângelo, Rafael, etc. usaram os frescos e a têmpera, mas, mesmo depois da descoberta do óleo, o fresco continuou a usar-se. Mesmo hoje, podemos ver dois frescos com técnica antiga, datados dos anos 60, à entrada da Biblioteca Nacional em Lisboa, da Autoria do Pintor Lino António.
 A durabilidade do Mural depende da preparação da parede.

No próximo post, falarei da técnica de trabalhar o fresco, desde a preparação da parede à aplicação das tintas.  


Fresco de Lino António na entrada da Biblioteca Nacional de Lisboa

Fresco com 400 anos descoberto agora no tecto da Igreja de Santiago de Cacém

sexta-feira, outubro 7

AVANÇAR SEM REDE


Será cedo para avançar? Quer fazer a experiência?


Vamos pensar como o grande Dali: se imitares os génios corres o risco de te tornares um deles. Vamos criar o nosso próprio caminho. O que sair desta experiência será vosso, terá a vossa marca. Não podemos esquecer que nos vamos expor e quem se expõe está sujeito a críticas. Mas aqui só mostra se quiser.
No primeiro trabalho aconselho que seja a preto e branco, canetas pretas, papel branco.

Material necessário

- Canetas pretas e de três espessuras
- Papel A4 e de gramagem  alta
 As canetas  são usadas para ajudar à distinção dos planos de profundidade. Como são da mesma cor, a ordem é arbitrária, embora eu aconselhe a caneta de ponta mais grossa para fazer o traço principal.  
Trabalho executado pelo processo descrito

Prepare o material. Parta para o exercício com a certeza que vai vencer.

Concentre-se... e vai ver que o seu subconsciente o vai ajudar... Ele ajuda sempre!

Pegue na caneta e faça um traço firme, com curvas e rectas, sem levantar a caneta do papel. Quando achar que deve parar, pare. Observe... e pense: o que lhe lembra este traço? 
Pegue nas canetas finas, primeiro numa, depois outra e vá completando até achar que completou a sua ideia. 

Espero comentários.

Mais tarde darei notícias para continuarmos o nosso trabalho.

terça-feira, outubro 4

OS VÁRIOS MODOS DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA




A EXPRESSÃO ARTÍSTICA


Quando falo de um fresco, de um quadro a óleo, de um painel de azulejos, estou a falar de obras de arte, mas com técnicas bem diferentes e  isso altera completamente a expressão artística. 
Há artistas que mantém o seu cunho mesmo quando mudam de técnica. Isto acontece se a sua marca é dominada pelo traço, mas se trabalha mais com mancha é difícil, pois o comportamento dos materiais é muito diferente: uma mancha de acrílico é diferente de uma mancha de óleo... Mas o artista deve levar o seu domínio ao máximo dos máximos.
Max Ernst (Excursão em família, Óleo s/tela)
Há técnicas que são semelhantes e difíceis de detectar em foto, como o caso da têmpera de ovo, muito usada pelos clássicos, em comparação com o óleo. Como o modo de aplicação é semelhante, só muda o veículo, sendo o aspecto também acetinado. Dito de outro modo, o líquido onde se dissolvem os pigmentos é semelhante na sua base gorda, mas um é uma espécie de maionese e o outro é um óleo. Ambos são gordos.
A forma e o modo de aplicar as tintas também os encaminham para as diferentes escolas, como o surrealismo, o impressionismo, o cubismo, o pontilhismo ou fauvismo.
Paula Rego ( acrílico sobre papel e colado sobre tela)

segunda-feira, outubro 3

APRESENTAÇÃO


Olá, amigos!


Estou aqui com a minha formação nos vários domínios em artes para responder às vossas dúvidas e ajudar-vos no que for possível.
Com este blog, venho para vos contagiar com o vício da criatividade e levar-vos a esta loucura, a este mundo saudável do nosso Eu que muitas vezes desconhecemos.
Comprometo-me a incitar-vos a serem criativos, com temas do dia a dia ou mesmo sem tema.Esta ideia saiu do contacto que tenho tido com adultos que começam a pintar e que me dizem que só sabem fazer cópias. Eu acredito que todo o ser é criativo e também há técnicas de criatividade. E não tenham medo, porque as regras são simples.
Vamos ler, ver muitas coisas sobre arte, visitar exposições e comentar. Mas pretendo sobretudo explorar a parte técnica da pintura, aquela que dá mais gozo à criatura humana, que nos torna mais pessoas.Hoje, vou apresentar alguns dos meus trabalhos feitos a partir de manchas ou traços ao correr da mão. Desafio-vos a descobrir o traço ou a mancha-mãe.